Humanizar é preciso... mas deve ser um movimento pela saúde e qualidade de vida que parta de todas as frentes envolvidas nesse processo: da política, da cidadania, das ações do cuidado,das equipes profissionais, da sociedade que consome os serviços de saúde, do SUS, dos sistemas gerenciais, dos empregadores...dentre muitas outras frentes. Mas pra isso, será necessária muita discussão. Informe-se em promoção da saúde, v.3, n.2.p.09-11, 2007.
terça-feira, 7 de junho de 2011
ORTOTANÁSIA A MORTE NO TEMPO CERTO
terça-feira, 31 de maio de 2011
VIOLÊNCIA E HUMANIZAÇÃO
A capacidade de ver
José Saramago, em seu “Ensaio sobre a cegueira” retira do Livro dos Conselhos a epígrafe1:
“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”.
E nos faz mergulhar numa história fantástica na qual uma misteriosa epidemia de cegueira branca acomete as pessoas de um país e, à medida que cada vez mais pessoas não podem ver o mundo, preocupadas consigo mesmas e sua sobrevivência individual, destroem-se as bases da organização social vigente e se instala um estado de coisas em que domina o espírito do “salve-se-quem-puder”, a “lei do mais forte”, o individualismo, a ganância, o colapso de valores humanistas. O resultado é uma sociedade caótica, destrutiva e suicida. Os personagens que conseguem manter princípios éticos e ações solidárias, sustentando uma organização coletiva baseada no respeito e cooperação, são os que escapam de ser tragados pela violência de uma multidão cega, potencialmente assassina, que percebe os outros como inimigos.
O autor tece uma analogia entre a perda da visão e a progressiva perda da humanidade decorrente do egoísmo de quem não consegue enxergar o mundo como um lugar a ser compartilhado por todos, mas um lugar hostil que se presta a prover necessidades particulares.
Qualquer semelhança com situações das sociedades contemporâneas certamente não é mera coincidência. Saramago escreveu esse romance com clara intenção de fazer uma contundente crítica à dissolução de valores éticos e alertar sobre a decadência humana e social que acomete a sociedade quando esses valores entram em crise.
Por isso, a epígrafe nos precipita à responsabilidade: se podemos ver o que está acontecendo, devemos buscar a reparação. Ver, conhecer, refletir sobre si mesmo, os outros e as situações que nos envolvem em contexto particular e coletivo. É o princípio da ética, da cidadania, da humanização.
Princípio que emerge da concepção de homem comum no lugar social e tempo histórico da modernidade. Podemos dizer que a noção de cidadania que temos hoje (um sistema de direitos e deveres que se aplicam a todos os membros de uma sociedade) é uma evolução cujo ponto de partida foram as modificações econômicas, políticas e sociais que se iniciaram a partir do século XVI.
Nas sociedades capitalistas, o homem comum é chamado de cidadão e ocupa um lugar estratégico na sua constituição, dinâmica e sobrevivência, e as instituições surgem como dispositivos de ação para a organização da sociedade e manutenção da ordem. Nesse contexto, a vida como valor máximo do ser humano passa a ter uma importância particular, quando a esse valor supostamente natural agregam-se outros que permitem o uso das práticas de saúde como estratégia de ação sobre a população para, através da promoção da saúde e da reprodução, manter-se a vida, a saúde da força de trabalho e na contemporaneidade, o consumo.
Entretanto, nessa configuração da sociedade em que todos são ditos cidadãos – teoricamente com direitos iguais (inclusive de acesso a bens), mas que na lógica capitalista não estão ao alcance de todos – não se mantém a ordem das coisas sem que opere a violência, nos seus mais diversos matizes.
Na nossa sociedade, a violência se revela estrutural ante a desigualdade social e a incapacidade do Estado de suprir as necessidades de toda população, criando um contingente de excluídos que não tem meios para exercer seus direitos e deveres cidadãos. A exclusão social não é só uma questão de pobreza, mas principalmente de ausência de poder público e sua substituição por um poder paralelo, marginal e violento cujas regras não respeitam as leis do coletivo, porque nesses espaços de não-governo instauram-se domínios que governam com regras particulares.
O território da cegueira branca...
Nas instituições, a violência decorre da cultura geral de violência de que falávamos e da organização visando a manutenção da ordem que consolida lugares de poder e controle dos sujeitos.
Sobre a instituição devemos lembrar que ela é condição básica do desenvolvimento humano. Produto das interações humanas. Nascemos numa família, crescemos construindo nossa identidade nos grupos que participamos, seja a escola, a religião, o trabalho, a tribo. Portanto, sempre estaremos ligados uns aos outros em graus variáveis. A questão, portanto, não é crucificar a instituição, mas perceber suas várias finalidades, pensá-las e transformá-las a partir de valores éticos revigorados.
A violência institucional na área da Saúde decorre de relações sociais marcadas pela sujeição dos indivíduos. Data na transformação do hospital antigo no hospital moderno sob os então “novos” métodos organizacionais. Historicamente, foi se configurando desde o controle, a alienação e o não reconhecimento das subjetividades envolvidas nas práticas assistenciais. Na vertente da organização científica do trabalho criaram-se as castas dos que pensam e dos que obedecem, levando-se ao estado de alienação do sujeito em relação ao seu trabalho, à instituição e ao contexto social em que se inscreve a sua prática que não só torna seu trabalho mecânico e sem sentido como potencialmente violento, porque perde qualidades fundamentais para o contato técnico e sensível necessário às relações intersubjetivas na Saúde.
O assim chamado institucionalismo11 resulta dessa forma de violência e faz com que a instituição de saúde passe a provocar doença ao invés do cuidado e da cura.
Nesse sentido, a humanização na Saúde (contra a violência institucional) chama à reflexão sobre em que se apoiam nossos saberes e práticas e quanto somos carregados por determinações sociais que imprimem interesses na nossa atividade.
A humanização como reação à violência institucional na Saúde busca recuperar o lugar das várias dimensões discursivas dos sujeitos que atuam ou recorrem às instituições de saúde, desconstruindo relações de dominação-submissão e dando lugar à construção de saberes compartilhados e o desenvolvimento dos potenciais de inteligência coletiva definidos por Levy como “a valorização, a utilização otimizada e a colocação em sinergia das competências, imaginações e energias intelectuais, independentemente de sua diversidade qualitativa e de sua localização” (Levy, 1993, p.36), que se traduz na comunicação, no debate e na divulgação das idéias para a construção de projetos e ações coletivas em sinergia com princípios, missão e visão institucional coletivamente construídos.
Cabe novamente perguntar: qual é o nosso papel como agentes de Saúde nessa sociedade?
O bom cuidado da saúde é um direito humano e quando podemos exercer nossas atividades profissionais decentemente estamos exercendo nossos direitos de cidadão, caso contrário estamos no meio da encenação de uma farsa, cegos ou não.
Para finalizar, gostaria de lembrar a crônica de Carlos Drummond de Andrade,16 nos dizendo da fixação humana pelo verbo matar, que desliza seu desejo homicida nos vértices de inocentes expressões lingüísticas cotidianas com as quais vivemos matando o tempo, matando a fome. Matamos aula, matamos charadas. Nosso dedo polegar é o mata piolhos. E termina brincando e nos chamando a refletir que: “Se a linguagem espelha o homem, e se o homem adorna a linguagem com tais subpensamentos de matar, não admira que os atos de banditismo, a explosão intencional de aviões, o fuzilamento de reféns, o bombardeio aéreo de alvos residenciais, as bombas e a variada tragédia dos dias modernos se revele como afirmação cotidiana do lado perverso do ser humano. Admira é que existam a pesquisa de antibióticos, Cruz Vermelha Internacional, Mozart, o amor.” (1993, p.67.)
Não sei por quê... Mas acredito no poeta!
REFERÊNCIA: RIOS Izabel Cristina. Caminhos da humanização na saúde: prática e reflexão. Áurea Editora, São Paulo, 2009.
Profissionais de Enfermagem defendem parto humanizado
Humanização na atenção a saúde do idoso
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Humaniza a ação, para Humanizar o ato de Cuidar
São os seres humanos que formam a sociedade, mudar a sociedade sem mudar o ser humano é ilusão.O trabalho, a criatividade, a educação e a vida social e familiar não evoluem separados.
Lembrando, que se faz necessário: Humanizar a Ação para Humanizar o ato de Cuidar.
domingo, 29 de maio de 2011
Formas para se alcançar a qualidade no serviço de saúde
A busca por uma assistência de qualidade na saúde para muitos parece ser uma ação difícil de ser alcançada, já que, todos os dias hospitais e UBS estão sempre cheios de pessoas que necessitam de cuidados para sua saúde. Muitos argumentam que a grande demanda sobre carrega o serviço, o que induz a preocupação em atender a todos em pequenos intervalos de tempo, consequentemente a qualidade do atendimento vai sendo perdida.
Pesquisas voltadas para avaliação da qualidade da atenção à saúde prestada pelo SUS de acordo com a ótica dos usuários apontam os seguintes problemas:
· A Falta de médico e enfermeiro (19,4%), a falta de medicamento (9,5%) e a demora no atendimento (8,3%).
· Os três principais problemas que os brasileiros enfrentam no SUS são as filas de espera: fila de espera para obter consultas com 41,3%, fila de espera para exames (14,4%) e fila de espera para internações (7,5%).
Quanto as principais fontes de insatisfação são: a demora do SUS em resolver problemas de saúde, tempo de espera para ser atendido pelo médico e pela equipe de enfermagem e a avaliação ruim dos serviços de recepção. E a de satisfação são: facilidade de encontrar a unidade de saúde e o atendimento prestado pela equipe médica e de enfermagem não só na resolução do problema como no atendimento educado, gentil e de boa vontade.
Tanto se fala em qualidade dos serviços de saúde, mais afinal o que é qualidade?
Qualidade é o produto de dois fatores. Um é a ciência e tecnologia da atenção à saúde, e outro é a aplicação desta ciência e tecnologia na prática, ou seja, a qualidade parte da atitude em implantar no cotidiano atributos que levam a busca da qualidade como: efetividade, aceitabilidade,segurança, confiança, respeito aos direitos das pessoas entre.
O profissional de saúde que se preocupa em prestar uma assistência de qualidade deve seguir práticas que diariamente se incorporem no ambiente de trabalho como: realizar técnicas corretas, planejar os cuidados, observar os resultados advindos das mudanças e principalmente receber a opinião dos usuários quanto à satisfação e insatisfação do serviço de saúde.
Com intuito de reforçar e estimular a qualidade no serviço de saúde, o ministério da saúde criou o programa QualiSUS.
A Política de Qualificação da Atenção à Saúde no Sistema Único de Saúde – QualiSUS foi criada com o objetivo de elevar o nível de qualidade da assistência à saúde prestada à população pelo Sistema Único de Saúde, levando a uma maior satisfação do usuário com o sistema e legitimação da política de saúde desenvolvida no Brasil.
O QualiSUS tem como dimensões da qualidade da atenção à saúde:
· Resolutividade, eficácia e efetividade da assistência à saúde;
· Redução dos riscos à saúde;
· Humanização das relações entre profissionais, e entre profissionais e o sistema de saúde com os usuários;
· Presteza na atenção e conforto no atendimento ao cidadão;
· Motivação dos profissionais de saúde;
· Controle social pela população na atenção e na organização do sistema de saúde do país.
Quanto ao processo de implantação da qualificação, o QualiSUS tem como recomendações reestruturadoras:
Acolhimento, ambiência e direitos dos usuários
· Implantar sistemática de acolhimento com avaliação de risco;
· Organizar espaços de espera múltiplos por complexidade e confortáveis: cadeiras, limpeza, bebedouros, iluminação, informação, comunicação visual, climatização etc;
· Capacitar equipe do acolhimento em processos relacionais, interativos e política de cidadania;
· Garantir o direito da presença do acompanhante nas consultas e na área de observação/retaguarda;
· Garantir alimentação adequada para os usuários que estão em observação e internados;
· Estabelecer visitas abertas com horários agendados com os cuidadores;
· Aplicar o Estatuto do Idoso e da Criança e Adolescente;
· Criar Grupo de Humanização com plano de trabalho definido.
Resolução diagnóstica e terapêutica
· Garantir quantidade e qualidade de profissionais adequados à demanda;
· Implantar protocolos clínicos e terapêuticos (síndromes febris, comas, agitação psicomotora);
· Adequar a estrutura física, os equipamentos e o mobiliário das salas de estabilização e retaguarda de pacientes críticos;
· Organizar retaguarda de especialidades médicas às equipes regulares da urgência;
· Adequar o serviço de apoio diagnóstico e terapêutico;
· Implantar Central de Equipamentos de suporte e monitoramento a doentes críticos.
Responsabilização e garantia da continuidade do cuidado.
· Organizar a Unidade de forma que todo paciente tenha um profissional médico e de enfermagem como responsáveis por seu plano de cuidado;
· Implantar sistemática de gestão de vagas e tempo de permanência, priorizando as necessidades da Porta da Urgência;
· Participar da linha de cuidado à urgência e assistência hospitalar integrando-se à Central de Regulação de Leitos e de Urgência;
· Articular com outras unidades do SUS e rede de apoio social para garantir a continuidade de atenção;
· Implantar o “kit alta”: relatório de alta, atestados, receita, retornos e exames agendados pré-alta .
Aprimoramento e democratização da gestão.
· Instituir gerência e colegiado multiprofissional da Unidade de Urgência;
· Implantar ouvidorias como mecanismo permanente de escuta dos usuários;
· Estabelecer contratualização entre o gestor e a direção do hospital e desta com as unidades de produção/trabalho;
· Implantar sistema de informação com indicadores de qualidade, produção e custos;
· Prestar contas do plano de qualificação no Conselho Gestor e Conselho Municipal/Distrital de Saúde;
· Implementar plano de informatização do hospital;
· Elaborar o Plano Diretor do Hospital e plano de trabalho das várias unidades;
As ações estabelecidas tem por finalidade a busca pelo melhor atendimento para a população. Vale lembrar que essas ações vão sendo alcançadas em longo prazo, pois, muitos obstáculos podem surgir, mais a atitude e a força de vontade induzem a excelência que nada mais é do que o fruto de um hábito implantado diariamente.
Para complementar a leitura acesse o link: http://www.cpqam.fiocruz.br/bibpdf/2009mendes-acg.pdf