terça-feira, 31 de maio de 2011

VIOLÊNCIA E HUMANIZAÇÃO


A capacidade de ver

José Saramago, em seu “Ensaio sobre a cegueira” retira do Livro dos Conselhos a epígrafe1:

Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”.

E nos faz mergulhar numa história fantástica na qual uma misteriosa epidemia de cegueira branca acomete as pessoas de um país e, à medida que cada vez mais pessoas não podem ver o mundo, preocupadas consigo mesmas e sua sobrevivência individual, destroem-se as bases da organização social vigente e se instala um estado de coisas em que domina o espírito do “salve-se-quem-puder”, a “lei do mais forte”, o individualismo, a ganância, o colapso de valores humanistas. O resultado é uma sociedade caótica, destrutiva e suicida. Os personagens que conseguem manter princípios éticos e ações solidárias, sustentando uma organização coletiva baseada no respeito e cooperação, são os que escapam de ser tragados pela violência de uma multidão cega, potencialmente assassina, que percebe os outros como inimigos.

O autor tece uma analogia entre a perda da visão e a progressiva perda da humanidade decorrente do egoísmo de quem não consegue enxergar o mundo como um lugar a ser compartilhado por todos, mas um lugar hostil que se presta a prover necessidades particulares.

Qualquer semelhança com situações das sociedades contemporâneas certamente não é mera coincidência. Saramago escreveu esse romance com clara intenção de fazer uma contundente crítica à dissolução de valores éticos e alertar sobre a decadência humana e social que acomete a sociedade quando esses valores entram em crise.

Por isso, a epígrafe nos precipita à responsabilidade: se podemos ver o que está acontecendo, devemos buscar a reparação. Ver, conhecer, refletir sobre si mesmo, os outros e as situações que nos envolvem em contexto particular e coletivo. É o princípio da ética, da cidadania, da humanização.

Princípio que emerge da concepção de homem comum no lugar social e tempo histórico da modernidade. Podemos dizer que a noção de cidadania que temos hoje (um sistema de direitos e deveres que se aplicam a todos os membros de uma sociedade) é uma evolução cujo ponto de partida foram as modificações econômicas, políticas e sociais que se iniciaram a partir do século XVI.

Nas sociedades capitalistas, o homem comum é chamado de cidadão e ocupa um lugar estratégico na sua constituição, dinâmica e sobrevivência, e as instituições surgem como dispositivos de ação para a organização da sociedade e manutenção da ordem. Nesse contexto, a vida como valor máximo do ser humano passa a ter uma importância particular, quando a esse valor supostamente natural agregam-se outros que permitem o uso das práticas de saúde como estratégia de ação sobre a população para, através da promoção da saúde e da reprodução, manter-se a vida, a saúde da força de trabalho e na contemporaneidade, o consumo.

Entretanto, nessa configuração da sociedade em que todos são ditos cidadãos – teoricamente com direitos iguais (inclusive de acesso a bens), mas que na lógica capitalista não estão ao alcance de todos – não se mantém a ordem das coisas sem que opere a violência, nos seus mais diversos matizes.

Na nossa sociedade, a violência se revela estrutural ante a desigualdade social e a incapacidade do Estado de suprir as necessidades de toda população, criando um contingente de excluídos que não tem meios para exercer seus direitos e deveres cidadãos. A exclusão social não é só uma questão de pobreza, mas principalmente de ausência de poder público e sua substituição por um poder paralelo, marginal e violento cujas regras não respeitam as leis do coletivo, porque nesses espaços de não-governo instauram-se domínios que governam com regras particulares.

O território da cegueira branca...

Nas instituições, a violência decorre da cultura geral de violência de que falávamos e da organização visando a manutenção da ordem que consolida lugares de poder e controle dos sujeitos.

Sobre a instituição devemos lembrar que ela é condição básica do desenvolvimento humano. Produto das interações humanas. Nascemos numa família, crescemos construindo nossa identidade nos grupos que participamos, seja a escola, a religião, o trabalho, a tribo. Portanto, sempre estaremos ligados uns aos outros em graus variáveis. A questão, portanto, não é crucificar a instituição, mas perceber suas várias finalidades, pensá-las e transformá-las a partir de valores éticos revigorados.

A violência institucional na área da Saúde decorre de relações sociais marcadas pela sujeição dos indivíduos. Data na transformação do hospital antigo no hospital moderno sob os então “novos” métodos organizacionais. Historicamente, foi se configurando desde o controle, a alienação e o não reconhecimento das subjetividades envolvidas nas práticas assistenciais. Na vertente da organização científica do trabalho criaram-se as castas dos que pensam e dos que obedecem, levando-se ao estado de alienação do sujeito em relação ao seu trabalho, à instituição e ao contexto social em que se inscreve a sua prática que não só torna seu trabalho mecânico e sem sentido como potencialmente violento, porque perde qualidades fundamentais para o contato técnico e sensível necessário às relações intersubjetivas na Saúde.

O assim chamado institucionalismo11 resulta dessa forma de violência e faz com que a instituição de saúde passe a provocar doença ao invés do cuidado e da cura.

Nesse sentido, a humanização na Saúde (contra a violência institucional) chama à reflexão sobre em que se apoiam nossos saberes e práticas e quanto somos carregados por determinações sociais que imprimem interesses na nossa atividade.

A humanização como reação à violência institucional na Saúde busca recuperar o lugar das várias dimensões discursivas dos sujeitos que atuam ou recorrem às instituições de saúde, desconstruindo relações de dominação-submissão e dando lugar à construção de saberes compartilhados e o desenvolvimento dos potenciais de inteligência coletiva definidos por Levy como “a valorização, a utilização otimizada e a colocação em sinergia das competências, imaginações e energias intelectuais, independentemente de sua diversidade qualitativa e de sua localização” (Levy, 1993, p.36), que se traduz na comunicação, no debate e na divulgação das idéias para a construção de projetos e ações coletivas em sinergia com princípios, missão e visão institucional coletivamente construídos.

Cabe novamente perguntar: qual é o nosso papel como agentes de Saúde nessa sociedade?

O bom cuidado da saúde é um direito humano e quando podemos exercer nossas atividades profissionais decentemente estamos exercendo nossos direitos de cidadão, caso contrário estamos no meio da encenação de uma farsa, cegos ou não.

Para finalizar, gostaria de lembrar a crônica de Carlos Drummond de Andrade,16 nos dizendo da fixação humana pelo verbo matar, que desliza seu desejo homicida nos vértices de inocentes expressões lingüísticas cotidianas com as quais vivemos matando o tempo, matando a fome. Matamos aula, matamos charadas. Nosso dedo polegar é o mata piolhos. E termina brincando e nos chamando a refletir que: “Se a linguagem espelha o homem, e se o homem adorna a linguagem com tais subpensamentos de matar, não admira que os atos de banditismo, a explosão intencional de aviões, o fuzilamento de reféns, o bombardeio aéreo de alvos residenciais, as bombas e a variada tragédia dos dias modernos se revele como afirmação cotidiana do lado perverso do ser humano. Admira é que existam a pesquisa de antibióticos, Cruz Vermelha Internacional, Mozart, o amor.” (1993, p.67.)

Não sei por quê... Mas acredito no poeta!

REFERÊNCIA: RIOS Izabel Cristina. Caminhos da humanização na saúde: prática e reflexão. Áurea Editora, São Paulo, 2009.

Profissionais de Enfermagem defendem parto humanizado



Dados do Ministério da Saúde mostram que o aumento da mortalidade materna está vinculado ao crescimento da quantidade de cesarianas. A propagação do parto normal é apontada como alternativa para reduzir o índice. A Organização das Nações Unidas (ONU) definiu como meta dos Objetivos do Milênio a redução de 75% da mortalidade materna no Brasil até 2015. Normas e diretrizes implantadas para a humanização do parto, ao longo dos 20 anos do Sistema Único de Saúde (SUS), têm contribuído para a redução. Entretanto, dados do Ministério da Saúde revelam a dificuldade de alcançar a proposta da organização internacional. Em 2005, a razão de mortalidade materna (RMM) foi de 74,7 óbitos por 100 mil bebês nascidos vivos.
Uma agravante é o aumento expressivo de cesarianas realizadas no País. Na contramão do crescimento de partos cirúrgicos, que causam mais mortes, a Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras (ABENFO) mobilizou profissionais da área para defender o parto humanizado.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a morte materna é aquela provocada por problemas ligados à gravidez ou por ela agravados, no período da gestação ou até 42 dias após o parto. Segundo estimativa da OMS, são registrados 585 mil falecimentos desta natureza por ano. Ou seja, uma morte materna a cada minuto. No Brasil, a criação do Pacto pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal, em 2004, provocou avanços significativos.
Entre eles, a implantação de mecanismos para prevenção, como os Comitês de Mortes Maternas, as políticas de humanização do parto e a obtenção de dados mais precisos sobre as causas dos óbitos maternos. A ampliação da cobertura dos exames pré-natal no País é outro dado positivo. Quase 100% (99%) das mulheres brasileiras tiveram acesso ao pré-natal em 2006, contra 86% em 1996.
Na s úl t ima s dé c ada s, o Br a s i l v i veu uma a lteração cultural na concepção do parto, com a substituição da casa pelo hospital, da partir pelo médico, com a incorporação de avanços tecnológicos e a crescente utilização de intervenções desnecessárias decorrentes das cirurgias de cesáreas. Prof i s s iona i s de s aúde passaram a observar a gestação e o parto como patologias, e não, processos fisiológicos.A proposta consiste em oferecer à mãe a autonomia para escolher o tipo de parto, quem a assiste e onde quer que seu filho nasça. Modelos de atenção ao parto e nascimento menos intervencionistas e baseados no acompanhamento da mulher, no estímulo à sua participação ativa e no suporte emocional têm sido implantados, no País, na tentativa de retomar no local em que a mulher se sinta segura, em um ambiente onde toda a atenção e cuidados estejam concentrados nas necessidades e segurança da parturiente e de seu bebê (OMS, 1996).

Humanização na atenção a saúde do idoso


Embora o tema “humanização” se faça presente em várias discussões e que, inclusive, tornou-se diretriz da tão aclamada Política Nacional de Humanização, esses pacientes enfrentam, ainda, vários obstáculos para assegurar alguma assistência à saúde. À desinformação e ao desrespeito aos cidadãos da terceira idade somam-se a precariedade de investimentos públicos para atendimento às necessidades específicas dessa população, a falta de instalações adequadas, a carência de programas específicos e de recursos humanos.cotidianamente, os idosos brasileiros
vivem angústias com a desvalorização das aposentadorias e pensões, com medos e depressão, com a falta de assistência e de atividades de lazer, com o abandono em hospitais ou asilos, além de enfrentar, ainda, todo o tipo de obstáculos para assegurar alguma assistência por meio de planos de saúde. Além disso, atualmente discute-se a necessidade de humanizar o cuidado, a assistência e a relação com o usuário do serviço de saúde. O SUS instituiu uma política pública de saúde que, apesar dos avanços acumulados, hoje ainda enfrenta fragmentação do processo de trabalho e das relações entre os diferentes profissionais, fragmentação da rede assistencial, precária interação nas equipes, burocratização e verticalização do sistema, baixo investimento na qualificação dos trabalhadores, formação dos profissionais de saúde distante do debate e da formulação da política pública de saúde, entre outros aspectos tão ou mais importantes do que os citados aqui, resultantes de ações consideradas desumanizadas na relação com os usuários do serviço público de saúde (Oliveira e col., 2006).
Apesar da intensa preocupação com o bem-estar da população idosa, evidenciada pelo leque de políticas, estatutos e programas que asseguram os direitos nos mais diversos aspectos que atingem as necessidades dessa crescente população, especialmente na área da saúde, englobando tanto o lado físico como o emocional, existem inúmeros obstáculos impedindo que essas políticas possam, de fato, ser concretizadas, o que também impede o cumprimento da equidade, integralidade e universalidade, diretrizes norteadoras do SUS.É preciso insistir na cobrança, por parte dos gestores do SUS, em providenciar os meios e os fins para que os idosos possam desfrutar dos seus direitos, tão bem colocados nos estatutos, políticas e programas dedicados a essa clientela. A capacitação profissional e o investimento nas estruturas físicas dos locais de atendimento, necessários à atenção ao idoso, devem contribuir para um viver mais saudável a esses indivíduos, sendo também nossa responsabilidade através da reivindicação do direito a um
atendimento humano.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Humaniza a ação, para Humanizar o ato de Cuidar

A humanização é um processo de construção gradual, realizada através do compartilhamento de conhecimentos e de sentimentos. Como enfermeira e educadora, questiono: como obter esta parceria entre o conhecimento e o sentimento? E como favorecer a uma aproximação mais real e verdadeira entre o enfermeiro e o paciente? 

Estes questionamentos me levam a refletir sobre um poema de Adélia Prado, “Ensinamento”:


“Minha mãe achava estudo 

a coisa mais fina do mundo. 

Não é. 
A coisa mais fina do mundo é o sentimento. 
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, 
ela falou comigo: 
“ Coitado, até essa hora no serviço pesado “. 
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente. 
Não me falou em amor. 
Essa palavra de luxo”.


Sentimento e estudo...Creio que sem o sentimento o estudo perde o seu sentido, por outro lado, sem o estudo, sem o conhecimento, o sentimento pode acabar empobrecido.
Sentimento e estudo são como as asas dos pássaros, dos anjos, se auxiliam no equilíbrio para o vôo, a uma maior valorização da vida.

Ao amor, a Adélia atribui a “essa palavra de luxo”. Será que por isto é tão pouco lembrado nas nossas escolas, nos nossos estudos com os nossos alunos, no nosso trabalho como educadores e enfermeiros?

As ações de humanização englobam muitas e diversificadas práticas profissionais que vêm sendo introduzidas no tratamento de pessoas hospitalizadas (a psicologia, a terapia ocupacional, a arteterapia, a contação de histórias, a arte do palhaço, as artes plásticas, o toque terapêutico, a massoterapia, etc.).
Práticas essas que passam pelo sentimento, o amor. Amar é responder pela relação, é estar atento às necessidades do outro, respeitá-las, escutá-las, dar-lhes uma resposta. Amar é prestar atenção em nossa maneira de tratar o outro.
O amor está ligado ao respeito = respicere = olhar. É a capacidade de ver a pessoa tal como ela é, estar consciente de sua unicidade, é desejar vê-la florescer conforme seus desejos e meios.
Amar é abrir-se à realidade do outro como ele é sem procurar transformá-lo conforme as nossas expectativas, encorajando-o em seu caminho ao mesmo tempo em que respeitamos ambos as nossas necessidades: as dele e as nossas.
Nas ações da humanização, procuramos resgatar o respeito à vida humana, a nossa e a do paciente. Estando presente todo um universo social, ético, educacional e psíquico, observados em todo relacionamento humano. As ações da humanização envolvem um vínculo subjetivo, entre quem cuida e quem é cuidado.
Ao “ensinamento”, ao aspecto técnico-científico, cabe a responsabilidade do educador, do professor. Ensinar ao aluno, ao futuro profissional, de forma competente, a aplicar as técnicas no atendimento ao paciente de maneira segura e eficaz, associadas a um atendimento que considere e respeite a individualidade das necessidades do paciente.
Na escola pouco se aprende sobre a afetividade: usar o corpo, ter confiança em si, escutar, ter empatia, auto motivar-se, respeitar as diferenças individuais, a humanizar-se.
Os seres humanos são seres de relações, são seres emocionais e amorosos.
Amo o mar, amo os seres humanos, amo minha filha, te amo, amo caminhar, amo ler, amo escrever...
Que confusões nascem pelo fato de termos um só vocábulo para designar o amor. Mas o amor se encerra numa definição? Palavras são insuficientes para descrever todas as sutilezas desse sentimento que nos liga conosco, com os outros e com o mundo.O amor traz em si a responsabilidade da humanidade, o respeito ao próximo.
Esta disposição para a importância do respeito da individualidade do paciente estabelece um grau de adaptação e mudança; em compensação, abre espaço para a criatividade tão fundamental no atendimento humanizado. A criatividade aplica-se em todas as ações da Enfermagem, pois o ato de cuidar é perceber o todo, é enxergar de uma forma global, criativa e criadora.Temos que mudar a forma como aprendemos e a forma como mudamos.Temos que sermos melhores no Ato de Criar, no Ato de Cuidar.
Humanizar é acolher esta necessidade de resgate e articulação de aspectos indissociáveis: o sentimento e o conhecimento. Mais do que isso, humanizar é adotar uma prática na qual o enfermeiro, o profissional que cuida da saúde do próximo, encontre a possibilidade de assumir uma posição ética de respeito ao outro, de acolhimento do desconhecido, do imprevisível, do incontrolável, do diferente e singular, reconhecendo os seus limites. A possuir uma pré-disposição para a abertura e o respeito ao próximo como um ser independente e digno.
É necessário repensar as práticas das instituições de ensino, que preparam os profissionais de saúde no sentido de buscar alternativas de diferentes formas de atendimento e de trabalho que preservem este posicionamento ético no contato pessoal e no desenvolvimento de competências relacionais. Quanto mais articularmos o conhecimento teórico e técnico da ciência aos aspectos afetivos, sociais, culturais e éticos da relação profissional-paciente, mais estaremos no caminho para uma relação mais humanizada e eficaz. Devemos ensinar que é possível contribuir na recuperação de um paciente por meio de atitudes simples, de uma palavra ou de um ato de carinho.
Alguns projetos já concretizam esses desejos, outros começam a tomar forma, refletindo na necessidade de entendermos que a transformação dos ambientes hospitalares depende de Conhecimento e de Atitude (sentimento), para o desenvolvimento de fato, de ações e resultados. Assim pensando, o Hospital Aliança (Salvador-Ba.), iniciou em 2002 a colocar em ação o Programa Enfermeiro Trainee.
O hospital não é um hospital escola, com a finalidade de ensino, mas possui uma história alicerçada na educação, com um foco voltado para o desenvolvimento técnico e comportamental de todos os profissionais da empresa, envolvidos direta ou indiretamente na assistência ao paciente. Desenvolveu e desenvolve na sua trajetória assistencial, ações e projetos voltados para a humanização.
Com esta história construída, agregamos, pois faço parte dessa história, o Programa Enfermeiro Trainee, oportunizando ao recém formado a uma inserção no mercado de trabalho. Com todos os sonhos do profissional que inicia a sua caminhada.
O Programa considera o conhecimento uma aquisição de forma contínua e sistematizada, com a qualificação técnica/científica, prática e comportamental.
Está sendo desenvolvido em um ano, sendo os dois meses iniciais do programa denominado de Programa Introdutório, onde são focados temas comportamentais como: autocuidado, comunicação, postura profissional, atividades direcionadas a humanização do processo de cuidar.
O programa tem também como objetivo desenvolver e fornecer elementos para que o enfermeiro possa ser capaz de relacionar o conhecimento adquirido com a sua prática cotidiana estimulando a sua percepção quanto à importância para o seu crescimento pessoal e profissional.
Os instrutores são profissionais da empresa, especialistas da área, participando toda a equipe multiprofissional (enfermeiro, médico, fisioterapeuta, engenheiro clinico, nutricionista, assistente social...).Sendo uma aprendizagem de dupla mão.Uma oportunidade de crescimento para toda a equipe. Definitivamente, a Humanização Hospitalar está em ação.
A humanização em hospitais envolve essencialmente o trabalho conjunto de diferentes profissionais, de toda a equipe. O trabalho interdisciplinar pode favorecer a uma multiplicidade de enfoques e alternativas para a compreensão de aspectos que estão envolvidos no atendimento ao paciente. Isto tudo pode colaborar para o estabelecimento de uma nova cultura de respeito e valorização da vida humana no atendimento ao paciente.
É necessário mudar a forma como os hospitais se posicionam frente ao seu principal objeto de trabalho - a vida, o sofrimento e a dor de um indivíduo fragilizado pela doença. De nada valerão os esforços para o aperfeiçoamento gerencial, financeiro e tecnológico das organizações de saúde. Pois a mais extraordinária tecnologia, sem ética, sem delicadeza, sem respeito, não produz bem-estar. Muitas vezes, desertifica o homem.

Afinal, "o que é humanização?". Questionado as Enfermeiras Trainee o seu significado, recolhemos algumas definições:

-Respeitar o outro como a si mesmo; -É se colocar no lugar do próximo ao cuidar dele; - Utilizar palavras simples como: bom dia, obrigada, posso ajudar? -Tratar o paciente de maneira humana.
Repostas que não englobam a complexidade da palavra, mas expressam que nas nossas relações diárias de trabalho há um espaço para os nossos corações se manifestarem. E estas jovens enfermeiras já perceberam o quanto faz diferença para elas e os pacientes. Observamos que, quando alguma coisa está em voga, podem ocorrer duas situações: a oportunidade de aprofundar e, aprender; ou o risco de banalizar e, com isso, perder o seu verdadeiro significado. E a humanização está no topo das discussões.

Acreditamos que qualquer ação na área da humanização necessita ter em mente o alcance e a delicadeza do tema. Esse tipo de cuidado pode resguardar sua profundidade, do contrário corremos o risco de banalizar essa prática através de ações bem intencionadas, mas talvez, pouco efetivas.

Educar com o coração, viver a vida com o coração, ser o mais total e integral possível, ter na consciência o papel que exerce no universo e representá-lo, tudo isto significa manifestar a inteligência do coração. Ou melhor, ainda estabelecer a parceria entre o conhecimento e o sentimento.
São os seres humanos que formam a sociedade, mudar a sociedade sem mudar o ser humano é ilusão.O trabalho, a criatividade, a educação e a vida social e familiar não evoluem separados.
Complementando essas reflexões sobre o processo de humanização recorro mais uma vez a beleza, a poesia através de um texto narrativo de Marina Colasanti: “De Cabeça Pensada”.
“Tinha 30 anos quando decidiu: a partir de hoje, nunca mais lavarei a cabeça. Passou o pente devagar nos cabelos, pela última vez molhados. E começou a construir sua maturidade”.
Tinha 50, e o marido já não pedia, os filhos haviam deixado de suplicar. Asseada, limpa, perfumada, só a cabeça preservada, intacta com seus humores, seus humanos óleos. Nem jamais se deixou tentar por penteados novos ou anúncios de xampu. Preso na nuca, o cabelo crescia quase intocado, sem que nada além do volume do coque acusasse o constante brotar.
Aos 80, a velhice a deixou entregue a uma enfermeira. A qual, a bem da higiene, levou-a um dia para debaixo do chuveiro, abrindo o jato sobre a cabeça branca.
E tudo o que ela mais havia temido aconteceu.

Levadas pela água, escorrendo liquefeitas ao longo dos fios para perderem-se no ralo sem que nada pudesse retê-las, lá se foram, uma a uma, as suas lembranças “.


A bem do paciente, devemos respeitar os seus desejos, as suas inquietações, as suas lembranças...Respeitar a vida.

Somente dessa maneira, podemos falar, da humanização, do respeito ao próximo.

E resgatar outro sentimento sem o qual a vida fica sem sentido: a esperança, que não espera acontecer, mas procura com toda a sua garra e energia tornar realidade o desejo de muitos: transformar todos os locais destinados a cuidar de pessoas, todas as escolas que preparam os “cuidadores” e todos aqueles que ensinam a cuidar, em uma nova comunidade de profissionais cuidadores da saúde e educadores, na qual exista um espaço para o estudo e o sentimento, dando assim a dimensão real da humanização: o nosso amor ao próximo, a nossa humanidade.
Lembrando, que se faz necessário: Humanizar a Ação para Humanizar o ato de Cuidar.
FONTE: Tânia Baraúna Enfermeira, Psicopedagoga. Disponível em : http://www.iacat.com/revista/recrearte/recrearte02/tania01.htm.
POSTADO POR KARLA DAIANE SANTOS (TURNO DA MANHÃ)

domingo, 29 de maio de 2011

Formas para se alcançar a qualidade no serviço de saúde




A busca por uma assistência de qualidade na saúde para muitos parece ser uma ação difícil de ser alcançada, já que, todos os dias hospitais e UBS estão sempre cheios de pessoas que necessitam de cuidados para sua saúde. Muitos argumentam que a grande demanda sobre carrega o serviço, o que induz a preocupação em atender a todos em pequenos intervalos de tempo, consequentemente a qualidade do atendimento vai sendo perdida.

Pesquisas voltadas para avaliação da qualidade da atenção à saúde prestada pelo SUS de acordo com a ótica dos usuários apontam os seguintes problemas:

· A Falta de médico e enfermeiro (19,4%), a falta de medicamento (9,5%) e a demora no atendimento (8,3%).

· Os três principais problemas que os brasileiros enfrentam no SUS são as filas de espera: fila de espera para obter consultas com 41,3%, fila de espera para exames (14,4%) e fila de espera para internações (7,5%).

Quanto as principais fontes de insatisfação são: a demora do SUS em resolver problemas de saúde, tempo de espera para ser atendido pelo médico e pela equipe de enfermagem e a avaliação ruim dos serviços de recepção. E a de satisfação são: facilidade de encontrar a unidade de saúde e o atendimento prestado pela equipe médica e de enfermagem não só na resolução do problema como no atendimento educado, gentil e de boa vontade.

Tanto se fala em qualidade dos serviços de saúde, mais afinal o que é qualidade?

Qualidade é o produto de dois fatores. Um é a ciência e tecnologia da atenção à saúde, e outro é a aplicação desta ciência e tecnologia na prática, ou seja, a qualidade parte da atitude em implantar no cotidiano atributos que levam a busca da qualidade como: efetividade, aceitabilidade,segurança, confiança, respeito aos direitos das pessoas entre.

O profissional de saúde que se preocupa em prestar uma assistência de qualidade deve seguir práticas que diariamente se incorporem no ambiente de trabalho como: realizar técnicas corretas, planejar os cuidados, observar os resultados advindos das mudanças e principalmente receber a opinião dos usuários quanto à satisfação e insatisfação do serviço de saúde.

Com intuito de reforçar e estimular a qualidade no serviço de saúde, o ministério da saúde criou o programa QualiSUS.

A Política de Qualificação da Atenção à Saúde no Sistema Único de Saúde – QualiSUS foi criada com o objetivo de elevar o nível de qualidade da assistência à saúde prestada à população pelo Sistema Único de Saúde, levando a uma maior satisfação do usuário com o sistema e legitimação da política de saúde desenvolvida no Brasil.

O QualiSUS tem como dimensões da qualidade da atenção à saúde:

· Resolutividade, eficácia e efetividade da assistência à saúde;

· Redução dos riscos à saúde;

· Humanização das relações entre profissionais, e entre profissionais e o sistema de saúde com os usuários;

· Presteza na atenção e conforto no atendimento ao cidadão;

· Motivação dos profissionais de saúde;

· Controle social pela população na atenção e na organização do sistema de saúde do país.

Quanto ao processo de implantação da qualificação, o QualiSUS tem como recomendações reestruturadoras:

Acolhimento, ambiência e direitos dos usuários

· Implantar sistemática de acolhimento com avaliação de risco;

· Organizar espaços de espera múltiplos por complexidade e confortáveis: cadeiras, limpeza, bebedouros, iluminação, informação, comunicação visual, climatização etc;

· Capacitar equipe do acolhimento em processos relacionais, interativos e política de cidadania;

· Garantir o direito da presença do acompanhante nas consultas e na área de observação/retaguarda;

· Garantir alimentação adequada para os usuários que estão em observação e internados;

· Estabelecer visitas abertas com horários agendados com os cuidadores;

· Aplicar o Estatuto do Idoso e da Criança e Adolescente;

· Criar Grupo de Humanização com plano de trabalho definido.

Resolução diagnóstica e terapêutica

· Garantir quantidade e qualidade de profissionais adequados à demanda;

· Implantar protocolos clínicos e terapêuticos (síndromes febris, comas, agitação psicomotora);

· Adequar a estrutura física, os equipamentos e o mobiliário das salas de estabilização e retaguarda de pacientes críticos;

· Organizar retaguarda de especialidades médicas às equipes regulares da urgência;

· Adequar o serviço de apoio diagnóstico e terapêutico;

· Implantar Central de Equipamentos de suporte e monitoramento a doentes críticos.

Responsabilização e garantia da continuidade do cuidado.

· Organizar a Unidade de forma que todo paciente tenha um profissional médico e de enfermagem como responsáveis por seu plano de cuidado;

· Implantar sistemática de gestão de vagas e tempo de permanência, priorizando as necessidades da Porta da Urgência;

· Participar da linha de cuidado à urgência e assistência hospitalar integrando-se à Central de Regulação de Leitos e de Urgência;

· Articular com outras unidades do SUS e rede de apoio social para garantir a continuidade de atenção;

· Implantar o “kit alta”: relatório de alta, atestados, receita, retornos e exames agendados pré-alta .

Aprimoramento e democratização da gestão.

· Instituir gerência e colegiado multiprofissional da Unidade de Urgência;

· Implantar ouvidorias como mecanismo permanente de escuta dos usuários;

· Estabelecer contratualização entre o gestor e a direção do hospital e desta com as unidades de produção/trabalho;

· Implantar sistema de informação com indicadores de qualidade, produção e custos;

· Prestar contas do plano de qualificação no Conselho Gestor e Conselho Municipal/Distrital de Saúde;

· Implementar plano de informatização do hospital;

· Elaborar o Plano Diretor do Hospital e plano de trabalho das várias unidades;

As ações estabelecidas tem por finalidade a busca pelo melhor atendimento para a população. Vale lembrar que essas ações vão sendo alcançadas em longo prazo, pois, muitos obstáculos podem surgir, mais a atitude e a força de vontade induzem a excelência que nada mais é do que o fruto de um hábito implantado diariamente.


Para complementar a leitura acesse o link:
http://www.cpqam.fiocruz.br/bibpdf/2009mendes-acg.pdf